Sinto-me estranha... Estranho o meu ser sincero e leal a seus valores... Esvazio minhas gavetas tantas vezes já remexidas e, nelas, o que encontro me faz perceber ainda mais este estranhamento. Minhas verdades se desfolham com o inverno. Minha história tem muito de mistério e parece que foi pintada pelo avesso... Mas, de repente, paro numa imagem e percebo que, ao pintá-la, eu tinha plena consciência desse meu abandono voluntário. Sempre fui mesmo meio eremita. A solidão eu desconhecia. Seduzia-me o silêncio e o majestoso estar só. Mas, agora, parece-me que estou fora de minha estrada. Meus pés me levam para onde? Que ausência de mim é esta?
Fui me espalhando por tantos cantos e, num canto qualquer, acabei me perdendo. Hoje estou tentando me encontrar... Por isso, talvez essa dor tão doída e já cansada de doer. Pinto, escrevo, leio, contemplo-me e não me vejo em nada do que tenho feito. Mas aí vem Clarisse Lispector e me avisa "...não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." Deparo-me com a sensação de estar vivendo num mundo estranho, desconhecido... Como se eu fosse aqui uma alienígena. E acho mesmo que sou... Outros valores... Outras crenças... Filosofia tão vã!
Algo não combina com minha pressa! E, paradoxalmente, minha alma pede calma... Uma calma que não encontro em mim. Estou tentando me ensinar a ter essa calma de que preciso. Mas, paulatinamente, meus olhos desmentem a tranquila intraquilidade dos meus dias! Quando posso, choro! Quando posso, ensaio novos passos... Tropeço em minha ingenuidade e caio direto na ansiedade dessa busca, mas nem sei o que buscar... Miragem! Sinto que estou indo embora... E essa viagem me apavora! Acho que estou em fase de germinar! Mas o adubo parece não ajudar a germinação... Estou tentando me descobrir, porque, ultimamente, tenho sido uma incógnata até mesmo para mim. Então, dê-me licença: estou em busca de mim! Ser efêmera me emociona, mas também me habilita para novas andanças!
Roziner Guimarães