domingo, 19 de junho de 2011

Copos estilhaçados...



... Aí eu quebrei um copo e tive a deliciosa sensação de alívio! Quebrar o copo me fez perceber o quanto minha raiva é interior e o quanto ela está entranhada em mim. O desejo agora era quebrar outro copo e mais outro e outros... Mas olhei meus copos e tive pena de quebrá-los. Que culpa eles tinham? E, "eu que culpa tenho?", fiquei me interrogando. "Perdoar e amar" é isso que tenho ouvido. Fácil falar em perdão e amor quando é a gente que viveu na pele o que causou a raiva. Muito fácil. Eu lá quero perdoar!? Quero expor minha raiva. Exorcizá-la. Invadi-la por inteiro até vê-la ser consumida. Raiva não se apaga com perdão. Ela precisa ser vivenciada. Sentida. Nada de tentar subjugá-la. Ela é tangente. E convergente... O lugar dela é o coração, mas ela se espalha pelo corpo todo e se transforma em dor. Olha que eu tenho competência para dizer isso.

Por isso, ela precisa ser sentida em sua plenitude. Vivenciada. Presentificada. E eu o que fiz com minha raiva? Eu a calei! Eu tentei emudecê-la! Enfiei a raiva no recôndito do meu ser. Sabe por quê, meu camarada? Porque me ensinaram que "menina boazinha perdoa", "menina boazinha não fica com raiva". Às favas com esse ensinamento. Primeiro que não sou boazinha coisa nenhuma. Segundo que tudo isso é uma grande mentira. Dessa "educação de mentirinha" estou cheia. O escambau com ela. Quero pôr minha raiva para fora. Por que tenho de guardá-la só para mim? Alguém irá percebê-la assim guardadinha dentro do peito?! Ah, vai!? Mas, quando eu começar a reclamar de dores e mais dores... Essas dores da alma..., aí terá sempre alguém para dizer: "Perdoa! Ama!" Ama o escambau! Perdoa o escambau! Eu não quero nenhuma dor para mim. Quem a provocou que fique com ela, caramba!

Estou me desfazendo das mentiras que me contaram. Dou um basta nesta educação moralista. Pura verborreia! Coisa de quem acredita que "Deus é vingativo". "Não faz isso, pois Deus castiga", "Deus quer que perdoemos os nossos inimigos", "Deus ofereceu a outra face". Aff!, como diz minha irmã! Se esse deus castiga quem sente raiva, quem explode, porque já não aguenta mais tanto sofrimento... Se esse deus castiga... Se esse deus pede para dar a outra face, quando recebemos "um tapa na cara"... Perdoa-me, mas esse deus é ruim. Ele quer que eu deixe o outro bem enquanto eu fico mal?! Então, ele não gosta de mim, C... Aí vem com aquela história de "recompensa no pós-morte". Nesta Terra de Ninguém, preciso sofrer para ser feliz depois? Isso é o que Deus quer??? Duvido!!!

O Deus em que acredito me quer livre... Quer que eu seja feliz. Quer-me sem máculas. Mas, guardando a raiva (perdoar não é humano. Nem vem com essa que não cola mais), não estaria eu maculando meu corpo e alma? Só pode falar o contrário quem tem a "ficha limpa". Você tem? Você consegue realmente perdoar? O escambau que consegue!!! Vejo um milhão de gente dando testemunhos de perdão. Tudo bem, camarada, fique você com sua dor. Perdoe, se você consegue! Eu não consigo! E, se para me livrar de minha dor, eu tiver que gritar minha raiva, vou gritá-la sim!!! Que se dane quem não quiser ouvi-la!

Que fique bem claro para os desavisados (aqueles que só sabem ler as linhas e se esquecem das entrelinhas) que eu não estou aqui fazendo apologia de nada. Não defendo a violência! Não defendo as agressões! Não é nada disso! Apenas não irei aceitar passivamente aquele discurso de "beata"! Vou cuspir minha raiva sempre que eu tiver com ela entalada na minha garganta. Cansei de sentir dores! Cansei de "ser a boazinha!" Eu serei boazinha se você não me ofender... Serei boazinha se você me respeitar... Serei boazinha sim! Mas respeite meus limites! Do contrário, não engulirei sapos nem pererecas ou qualquer outro batráquio que estiver de plantão na hora que você despejar sua deselegância para cima de mim. Vou devolvê-la na mesma velocidade que ela vier... Portanto, meu chapa, seja você quem for, lembre-se que a "boazinha" morreu no instante em que ela percebeu que, ao tentar perdoar, esquecer ou "ser  boazinha", apenas adquiriu para si  dores terríveis que só ela sente... Você (repito: seja lá quem for) está (ficou) por aí livre, leve e solto(a)... Eu estou aqui quebrando copos e me livrando de dores que são suas. Por enquanto, palhaço(a)!

Ufa!!! rs rs

Roziner Guimarães

sábado, 11 de junho de 2011

Descobertas...


... Eu fiquei me perguntando: "O que eu estava fazendo ali?" "Que sentimentos eu experimentava?" "O que tudo aquilo me revelava?" Esses ganchos me fisgando e eu tentando dar a eles uma resposta que nem sei ao certo qual é, apesar de uma leve desconfiança a seu respeito. Mas, como tomei a decisão de ser pesquisadora de mim, não me contentei com a desconfiança... 


Poucas pessoas tinham chegado para a festa. (Festa? Ou seria apenas uma confraternização? Confraternizava-se o quê?). Poucos carros estacionados. Procurei por um em especial. Mas ele não estava estacionado ali. Sinal de que ele ainda não tinha chegado... Estacionei o meu carro e resolvi entrar. Entrei. Vi algumas pessoas (sei lá se conhecidas... Não me recordo!). Olhei para trás e vi uma mulher conhecida. Ela estava num outro cômodo da casa, mas eu a podia ver pela "janela", isto é, uma abertura igual àquela de restaurante, por onde os cozinheiros entregam a comida ao garçon para ser servida aos fregueses. Essa mulher usava um vestido de festa junina e estava com o cabelo em tranças. Pareceu-me que ela preparava alguma comida. Ela me disse alguma coisa que também não me recordo o que seja.

Saí dali para ir embora. Muitos carros estavam agora estacionados lá fora. O meu carro estava bem no fundo do estacionamento. Fui até ele e pensei: "Como farei para sair daqui?" Entrei no carro e, na minha frente, tinha uma cratera enorme. Não dava para seguir em frente. Continuei olhando e vi uma "picape", aquela camionete antiga, tentando atravessar aquele buraco. As rodas traseiras da picape estavam "patinando" sobre o abismo. Pensei: "Ih... vai cair". Se caiu, não sei. Engatei marcha à ré e, quando olhei para trás, também tinha ali uma cratera. Mas, inda assim, manobrei o carro e consegui sair. Não consigo diagnosticar o meu sentimento naquele instante. Segui em frente. Deparei-me com uma ponte, que mais parecia uma pinguela feita de gravetos e cipós. Essa "ponte" era estreita e estava meio quebrada. Parece que senti um pouco de medo. Mas, mesmo assim, decidi atravessá-la com meu carro. Pisei no acelerador, que estava amarrado por um cipó, e esse cipó arrebentou. Segui em frente com o carro. Atravessei a ponte e, no final dela, tinha uma porta. Abri a porta...
 Algumas respostas me ocorreram. Mas a maior delas é a certeza de que a decisão é seguir em frente, enfrentando o medo se ele vier. A passagem é, sem dúvida, perigosa, mas há uma saída. É preciso apenas abrir a porta. Do outro lado, está a vitória.

Roziner Guimarães

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Terra seca

  Época de seca! Queimadas! Solo ressequido!
Escrever se torna um exercício de aeróbica:
A palavra mergulha num silêncio quase atávico
como se convidasse o poeta para apenas olhar...
Sentir os vãos e desvãos da vida
e se esgueirar no mesmo mutismo das árvores secas
para poder ouvir seus gemidos de dor e renúncia...
E a poesia se esfacela numa rima perdida
na estrábica estrofe coroada de mal entendidos
tamanha é a dor do poeta!

Roziner Guimarães