Nunca me dei muito bem com os substantivos. Não adianta ter substância se essa substância não é qualificada, determinada. Prefiro os adjetivos e os verbos. Os adjetivos, porque qualificam ou determinam o substantivo. Os verbos, porque indicam ação. É a palavra por excelência. "No princípio, era o verbo..." A partir do verbo, é possível criar. Verbo e adjetivo são, pois, a matéria-prima para quem lê e escreve. Em outras palavras, sem os verbos e os adjetivos não se vive de verdade. Não adianta , por exemplo, nomear um ser se não o qualifica ou o determina. Casa é sempre casa. Mas a minha é a minha casa. Tem suas particularidades. Seus meandros. A casa do outro é a casa dele... Também é singular, embora possa ter algo de coletivo como a minha. Essas singularidades só se tornam possível a partir do adjetivo, cujo valor é subjetivo, por excelência. O que quero dizer é que, para se utilizar o substantivo, antes é preciso usar o verbo para criá-lo e para dar a ele uma qualificação.
Recorrer, pois, ao dicionário sempre que se precisa de um qualificador talvez não seja a melhor estratégia. Para qualificar, é necessário "sentir", e o dicionário não sente. Ele não pode ter ações como "pensar", "sentir", "perceber". Ações são típicas dos homens. Mas alguns preferem falar a agir. "Quem fala muito tem pouco a dizer." Não é a quantidade que exprime a clareza. Não é o "saber ler" que norteia o significado. Muitas vezes as palavras podem ser ditas no silêncio. Mas, eu sei, para muitos, isso é difícil de ser compreendido. É que a maioria das pessoas não aprendeu a ler. Apenas balbucia palavras. E sai por aí tecendo críticas e comentários... Fazendo-se de grande leitor. Lê as palavras, contudo não consegue dar a elas, ao conjunto delas, o sentido real. Fica nas linhas. Esquece as entrelinhas. As cores. As imagens. As metáforas... Não olha nos olhos... Não observa o contraste, a sintonia, a continuidade, a atemporalidade...
Ler exige mais ação e sintonia com o todo que envolve a palavra. Sintonizar é sentir. É se comprometer com os sentimentos advindos da leitura. Lê bem quem se entrega à leitura. Entregar é a ação de abandonar... É necessário se abandonar naquilo que está sendo lido. Abandonar-se significa observar, prestar atenção aos detalhes... Exige comprometimento com o que se lê. Não importa se essa leitura é de um livro, de um momento, de uma pessoa, de um espaço... É, por essa razão, que discuto a importância do verbo e do adjetivo. Sem ação não há qualificação, determinação. Se houver, ela poderá estar recheada de equívocos. E é isso que, na maioria das vezes, ocorre nas leituras em que não se empreendeu a ação de "ler de verdade". Ficou-se apenas na superfície. Não houve mergulho. E, se não houve esse mergulho, a leitura é insensível, sem fundamentos práticos. Não deve ser levada em consideração. Ou o leitor fez uma leitura fria, distante do sentido, porque não sabe mergulhar, ou ele, mesmo sabendo, preferiu ficar à tona e aí fez uma "crítica" apenas para dizer que disse algo. Num ou noutro caso, nem o verbo nem o adjetivo devem ser levados em consideração.
Sem "ler de verdade", "entregar-se à leitura", é impossível qualificar, determinar. Ler é verbo. Entregar-se é verbo. Observar é verbo. Mergulhar é verbo. Considerar é verbo. Portanto, caro leitor, não posso admitir que me leia, pensando que está comendo a sopa que você não gosta ou recorrendo ao dicionário para encontrar palavras para sua ignorância adjetival. Não suporto leitores ingênuos, despreparados, incautos.
Pode me ler à vontade, mas, por favor, aprenda a usar o verbo! Depois, pode até me nomear ou adjetivar! Quando o leitor é realmente um leitor e não um ledor, as críticas são sempre bem-vindas! Pronto, falei!
Roziner Guimarães