sábado, 29 de outubro de 2011

Sem sentido...





               Talvez eu devesse começar este texto com uma citação de Mário Quintana ou Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector... Afinal, grandes escritores têm muito a dizer, mas, neste momento, nenhuma voz que não seja a minha consegue se fazer ouvida. Minha mente, no momento, está num trelelê desconexo. Vagabundeando por caminhos avulsos e cheios de curvas perigosas. Deixo que ela serpentei bastante... Tagarela, como ela está, precisa regurgitar sua disforia convexa. Mas, confesso, estou por demais cansada do seu falatório... Cansada, literalmente cansada, de dar trela a ela. E, como sei que escrever é, para mim, um santo remédio... Meio zonza com sua prolixidade, arregaço as mangas, melhor, desnudo-me de mim, e voo. Nesse voo, encontro-me n"O Divã" e ouço Martha Medeiro dizendo que: "Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoraçao ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia".
               Ora,  "já me fiz a guerra por não saber que essa terra encerra o meu bem querer, que jamais termina o meu caminhar". Aí começa uma ladainha de outras vozes e encobre minha voz interior. Creio que ela se refugia em algum cantinho escuro que me esqueci de iluminar. Então, tartamudeando ainda um resquício de querer falar, quedo-me na certeza de que "só o amor me ensina(rá) onde vou chegar." Eu preciso me cumprir para enxergar o horizonte. Estou fazendo a travessia... Longas noites insones... Longos dias esfarelados e do avesso... Longo, muito longo, esse caminho. Mas, como me avisa Ricardo Reis: "Colhamos flores. Molhemos leves as nossas mãos nos rios calmos, para aprendermos calma também. Girassóis sempre fitando o sol, da vida iremos tranquilo, tendo nem o remorso de ter vivido..." Girassóis!!! Lembro-me de que eu, ingenuamente, pensei "agora, vamos ter os girassóis no fim do ano", mas o "calor foi desumano"... Sorte que eu tinha (tenho) "mais um santo para esculpir" e isso é que me vale e faz "evitar que o rancor suas ervas se espalhe"...
               Tentei buscar respostas... Perguntei... Indaguei... Percorri caminhos tortuosos demais por isso. Agora estou no meu limite... Aquele limite em que se compreende que o que importa não são as indagações, porque as respostas nem sempre virão... E, se vierem, podem não corresponder às nossas expectativas... Afinal, cada qual vive a sua verdade... E as respostas se cruzam, entrecruzam, confundem-se e acabam vilipendiando o que pensávamos ser verdadeiro. E não era? E teimam a voltar os ganchos para me fisgar... É, talvez eu tenha deixado ser usurpada por tanta tagarelice e isso me fez perder a calma, mas as erranças fazem parte da caminhada. Viver parece sério demais. E eu estou tentando me "desacostumar" dessa seriedade. Quero deixar de ser trágica para ser mágica. Brincar de borboleta cansa!
               ... É que teimo em auscultar meu incendioso coração. Mas, agora, volto para mim novamente e leio com calma o que escreveu Mário Quintana: eu queria "decifrar o mistério da alma, o sentido da vida, mas, no fim, só me restou a poesia, outro enigma! " Espero que, "passada esta azia transcendental", eu encontre a paz e a serenidade. Emoções... Como não tê-las? Erranças a procurar sentido no desconhecido... Naquilo que denominamos, mas desconhecemos, o amor.  Vou ser colibri!


Roziner Guimarães

10 comentários:

  1. "Sem sentido"??? Fiquei aqui lendo e relendo este belo texto e imaginando: "Por que 'sem sentido'"? As palavras estão entrelaçadas de forma tão significativa que, me perdoe, o título "não faz sentido". Mas, creio, pela profundidade com que você trabalha com as palavras, que sou eu que não consegui entender o jogo estabelecido no seu discurso. Deve ter "um sentido" para o "sem sentido"...

    Mas, "com todo sentido"(rs rs), preciso dizer que seu texto me fez pensar também nas minhas erranças... Viver está realmente muito sério... Chega de tantas interrogações! Melhor alçar voo!!!

    Muito bom seu blog! Parabéns!!!

    Abraços!

    Laércio

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  2. Oi, Roziner,

    "vagabudeando" pela net, encontrei seu blog. Que maravilha! Seus textos são formidáveis. Adorei tudo que li. Voltarei outras vezes. Tb estou em voo.

    Beijos em seu coração colibri!

    Matheus

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  3. Minha amada escritora,

    aqui estou eu de volta feliz por ver que depois de algum tempo voltou a escrever... Voar! Quem não tem andado por caminhos errantes? Quem não tem buscado respostas? O que quero dizer, minha eterna musa inspiradora, é que realmente Marta Medeiro está certa, pois "o que não (nos) faz mover um músculo, o que não (nos) faz estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da (nossa) biografia".

    Emoções são sempre bem vindas! São elas que nos mantem vivos. São elas que nos mostram o quanto somos gente. São elas que nos permitem escrever textos lindos como vc escreve.Coitado de quem vive de "razão"... Esses só conseguem pensar em status, dinheiro... Nós, seres emocionais, sofremos sim, mas, para nós, até o sofrimento se transforma em poesia. Para os racionais, só fica o sofrimento, o martírio.

    Eu tb estou em voo... Mas hoje, nada por acaso, pousei novamente aqui e fiquei ouvindo a sonoridade do seu canto... Há muitos girassóis esperando por vc... Voe!

    Beijo sempre gostoso!!!

    Augusto

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  4. Amada professora Roziner,

    Sinto um orgulho enorme em ter sido seu aluno. Muito aprendi com vc. Saudade daquele tempo de Ufmt...

    Fiquei sabendo que tem publicado poesias. Gostaria de ter um livro seu. Guardo "Constância" com carinho.

    Beijos!

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  5. Que delícia de texto! Parabéns!

    Martha

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  6. Oi, "Toda sentido",

    Deixa eu "auscultar seu incendioso coração"? Imagino que deve ter aí um carinho especial guardado para alguém especial... rs rs Candidato-me! Também gosto de poesia... E, juntos, podemos colher algumas flores... E, quem sabe, colher girassóis antes do fim do ano!

    Não moro muito longe... Estou mais perto do que vc imagina. Envio hj ainda um e-mail pra vc no rggvida... e me identifico. rs

    Beijos!!!

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  7. Oi,

    Sabe aquele dia q a gente tem vontade de jogar tudo pro alto? Pois, então, hj amanheci assim. Liguei o pc e comecei a vasculhar o google em busca de nada... Na verdade, eu não estava mesmo com vontade de nada. Era só para passar o tempo... Aí, de repente, nem sei o que digitei, apareceu seu blog. Sem vontade, confesso, abri a página e comecei a ler. Quando li o título "Sem sentido", pensei: "mais uma besteira. Tudo é sem sentido mesmo". Mas continuei lendo... E fui me interessando pelo q vc escreveu. Terminei "Sem sentido" e continuei lendo os outros textos... Quando dei por mim, já tinha lido quase todos os textos. Meu humor se transformou. Sua linguagem, ou melhor, sua forma de falar das "coisas" mexeu comigo. Me fez pensar. Aí resolvi deixar este depoimento, pois o seu blog é muito bom e me ajudou a refletir sobre alguns "sem sentido" que venho vivendo. Quem sabe, eu tb crio coragem e mudo de profissão... de... de... Tanta coisa pra ser mudada. Mas a razão sempre dando as ordens. Vc me fez compreender que as emoções tb falam... Minha vontade era poder ser agora mesmo um pássaro e voar para outras rotas...

    Bem, obrigado por me proporcionar o momento de hj...

    Parabéns pelos textos!

    Ricardo Araújo

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  8. Boa tarde, Roziner!

    Sou professor em uma escola particular em Curitiba e gostaria de pedir sua permissão para utilizar esse seu texto em minha sala de aula. Estou trabalhando com o texto argumentativo e o seu texto me permitirá mostrar aos meus alunos que, quando falamos em texto argumentativo, pensamos sempre em textos técnicos, objetivos, científicos... Entretanto, o seu texto, escrito em linguagem subjetiva, metafórica, apresenta argumentos claros e significativos, isto é, a argumentação não pode ser vista apenas nos textos científicos, mas também nos textos literários. Quero que eles compreendam a diferença entre a argumentação subjetiva e a objetiva. Pode ser?

    Obrigado!

    Marco Antônio

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  9. Caro professor Marco Antônio,

    fique à vontade para utilizar o texto em sua sala de aula. Também sou professora e é uma honra poder contribuir para o conhecimento dos alunos.

    abraços!

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