sábado, 25 de fevereiro de 2012

Estou descobrindo...


               Um barco à deriva no oceano... É assim que me vejo e me sinto no momento. Mas esse barco, apesar de estar à deriva, tem um norte! Apenas estou sem nenhuma vontade, no momento, de tomar o leme... Deixo que as ondas nos guiem... A mim e ao barco! Vento no rosto e todo o desejo de nada e de tudo. Tudo tão contraditório! Paradoxal! Mas o que importa é navegar. Embora viver não seja  preciso, "navegar é preciso". Estamos descobrindo novos caminhos... Novas rotas... Sem pressa! Descobri que a pressa é minha inimiga número 1. Não adianta ficar ansiosa tentando encontrar um porto seguro. Até porque nem sei se existem portos seguros... Sei que existe meu desejo de novos rumos... E sigo à deriva... Descobrindo o nem pensado... O ainda por sonhar... Quando me canso, tomo o leme e ancoro n'alguma praia. Fico ali, eu e o mar curtindo, na areia, o nosso barulhento silêncio.  
                 
               Indiferente à minha, às vezes, tristeza, o ontem morre já de passado e o dia se faz novo. A dor  é persistente, mas o céu continua azul... Com nuvens formando figuras como no meu tempo de criança. Tento brincar com elas! Rio delas e de mim! Às vezes, também choro... O choro é necessário. Sei que não tenho mais a euforia de antes, mas tenho ainda o sonho, a fantasia, o gosto gostoso, certo que às vezes agridoce, da descoberta. Olho para o infinito e tento me encontrar nele. Mas o que vejo são apenas réstias de um sonho já bobo, sem fundamento, sem cor, sem sabor. Não me reconheço nele. Sou outra (ou sou ostra?). E meu barco continua à deriva... Num vai e vem pensamental (essa palavra existe? Se não existe, crio-a para dizer que meus pensamentos são nuvens em dia de ventania), deito-me e me ponho nua para a dor que me atormenta. Não posso com ela. Então, deixo-a doer até que se canse. Nesses momentos, descubro que estou cansada dela... E de mim! 
             
               À minha frente, sempre um nascer ou pôr do sol maravilhoso. Contemplo-os! Sinto-os! Vivifico minha vontade de chegar... Não importa a apatia que me invade por inteira. Inércia necessária! Urgente! Deixo-a brotar e criar raizes em mim... Esse é o meu tempo! Nada mais posso fazer quando as brumas me invadem e me pedem silêncio a não ser silenciar! Aí me faço criança e choro! Minhas lágrimas se misturam às àguas do mar. E às vezes o tingem de vermelho. Não sei se de paixão ou de dor... Numa ou noutra opção,  quero colo! Lembro-me de quando era criança e tinha meu pai para me fazer dormir. Ele me pegava no colo, passava as mãos em meus cabelos e, quando eu dormia, levava-me para a cama. Cobria-me e me dava um beijo de boa noite. Lembro-me das laranjas com tampinhas de funil que ele carinhosamente as descascava para mim. Hoje, se quero laranjas, eu mesma tenho de descascá-las...  O beijo de boa noite eu tenho, mas sinto falta daquele beijo "desajeitado" dele. O resto são lembranças! Memórias às vezes doces... Na maioria, doloridas por demais! Mas a dor é só minha! As lembranças também! Isso pouco deveria importar, mas importa sim, e muito!

               Queria ainda me sentir poeta, mas a poesia me estuprou. Estuprada, quis saber mais dela não.  Por isso, estou como as aves de arribação... E vou continuar meu voo... Vou indo...  Voando... Navegando... Quem pensa que naufraguei está enganado. Nem vou naufragar. Estou apenas cuidando de mim... Cansada das mãos sempre no leme, comandando a direção, o rumo, o destino... Fui obrigada  (o Universo tem suas Leis) a deixar meu barco um pouco à deriva... E estou descobrindo que precisava mesmo cuidar de mim. E que esse cuidado é bom! Se hoje sou tempestade, já fui chuva de verão. Se hoje sou tormenta, já fui calmaria... E de que adiantou? Nada!!! Eu pouco, ou nada, sei da vida e de mim mesma...  E não pensem que, se hoje tenho dor, eu não tenho amor. Tenho sim! Dor não precisa rimar com amor... Talvez seja por isso que a poesia me estuprou (ou fui eu que a estuprei ao rimar dor com amor?!). Rima pobre para uma poeta que adora pôr do sol, cachoeira e girassóis... Mas isso não importa! Ao contrário de Cecília Meireles, eu não "pus o meu sonho num navio”...  Eu me pus a navegar... E lá vou eu!!! 
          
               Nessa viagem, estou descobrindo que o que realmente importa são minhas descobertas, por melhor ou pior que elas sejam. Sou eu em mim mesma. Sentindo-me! Amando-me! Indo... Descobri que mal nenhum faz acreditar em contos de fadas. Pelo contrário, faz um bem danado! Histórias da carochinha... Apesar de ser um bicho nojento, a baratinha, na minha história, é doce, açucarada, bem-humorada, porque o paradoxo é universal e necessário. Não a copio por copiar, copio-a por exigência existencial, mas dou a ela o meu viés particular. Nela, a carochinha, por si mesma, se significa. Torna-se singular neste mundo pluralista e azedo. É uma tentativa de me aproximar da inefabilidade da vida. O resto é apenas resto. Estou descobrindo...

Roziner Guimarães

3 comentários:

  1. Voei alto ao ler seu texto. Senti certa amargura, mas também uma dose de esperança. Deu vontade de velejar por ai assim como vc. Parabéns por nós presentear com mais um texto.

    abraço!

    Um fã.

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  2. Olá, Roziner, td bem? EStive ausente mas estou voltando e matando saudades. Boa semana, beijos

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  3. Roziner, minha prima! Gostei muito deste seu texto. E "Estou descobrindo..." que vou gostar muito de te conhecer e ler os seus livros...
    Abraços fraternos do primo
    Edson Angelo Muniz.

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