domingo, 13 de junho de 2010


               Aquela velha história de ficar "em cima do muro" mudou. A onda agora é olhar por detrás de grades nas janelas... Contemplar o mundo que gira lá fora e sentir que um mundo desconhecido parece nos invadir por inteiro. Estamos presos! Presos no egoísmo! Presos no preconceito! Presos na falta de perspectiva! Presos... E vamos nos transformando em seres andróginos... E nos prendendo ainda mais no hipócrita discurso: "Eu me basto!"

               Como bichos em cativeiro, permanecemos escondidos, muitas vezes, de nós mesmos! Esquecidos no nosso solilóquio! Embrenhados no marasmo de uma vida sem sentido! Olhamos e não conseguimos enxergar o sol que brilha lá fora... Dentro do peito um coração sem dono! E a luz parece querer invadir nosso pequeno espaço! Pelo vão da janela, acalentamos o sonho de voar... Criamos asas no nosso abandono e, como Fênix, cremos renascer de nossas próprias cinzentas cinzas! Cruel destino! Abrimos as asas amarrotadas de ontem e percebemos que desaprendemos o vôo! Não somos águia... Transformamo-nos em abutres de nós mesmos! De nossos desejos não ditos... De nossos sonhos não revelados... Dos nossos medrosos sentimentos!

               Ocultos no nosso próprio abandono, só conseguimos visualizar o nó do nosso destino... Mas não sabemos como desatá-lo! E a onda do antigo discurso retorna e nos pega novamente desprevenidos... Novamente repetimos: "Eu me basto!" E batemos com a cara na praia da nossa solidão! Como náufragos, olhamos ao redor em busca de uma ilha onde pudéssemos enterrar nosso sentimento de nulidade... Mas a ilha se torna um oásis e, ao percebermos isso, só nos resta chorar... Sentamos na areia molhada pelo nosso pranto e derramamos nossos dissabores... Mas a praia está deserta! Ninguém por perto para sequer ouvir nosso choro... Lamentamos sozinhos e percebemos que a nossa solidão é igual à solidão do mundo! Cada um vivendo seu próprio abandono! Sua própria hipocrisia! Seu próprio obscurantismo! De Fênix passamos a Sísifo e voltamos a carregar as pedras que rolaram do nosso coração! Novamente nos colocamos nus na praia deserta e subimos montanha... Lá de cima do nosso desassossego contemplando o infinito...

               O infinito seria o nosso porto seguro! Mas que é feito do barco ou da canoa que poderia nos levar até a outra margem? Em nossos devaneios nos esquecemos de colocar na tela que pintamos a moldura adequada para estancar as lágrimas que teimam em novamente rolar... E a enchente que se forma parece querer nos afogar por inteiro. Estamos naufragando! Sem remos, sem velas... À nossa frente um mar em tsunami... Às costas, um frio tenebroso... Se caminhamos para o lado, um abismo imenso parece querer nos engolir! Nenhum oásis... Nenhuma ilha paradísiaca! Só nossos lamentos! E, sós, entregues ao nosso solilóquio, fechamos os olhos, abrimos os braços e nos jogamos de cima da montanha... Lá embaixo um mundo tingido de vermelho nos acolhe na escuridão do asfalto!



Roziner Guimarães



Um comentário:

  1. Quantas vezes quis entender porque "dei certo" na vida. Agora entendi. Nunca caminhei na contramao da vida e levei muito ponta pé na... Obrigada pela compreensão.

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