Aquela velha história de ficar "em cima do muro" mudou. A onda agora é olhar por detrás de grades nas janelas... Contemplar o mundo que gira lá fora e sentir que um mundo desconhecido parece nos invadir por inteiro. Estamos presos! Presos no egoísmo! Presos no preconceito! Presos na falta de perspectiva! Presos... E vamos nos transformando em seres andróginos... E nos prendendo ainda mais no hipócrita discurso: "Eu me basto!"
Como bichos em cativeiro, permanecemos escondidos, muitas vezes, de nós mesmos! Esquecidos no nosso solilóquio! Embrenhados no marasmo de uma vida sem sentido! Olhamos e não conseguimos enxergar o sol que brilha lá fora... Dentro do peito um coração sem dono! E a luz parece querer invadir nosso pequeno espaço! Pelo vão da janela, acalentamos o sonho de voar... Criamos asas no nosso abandono e, como Fênix, cremos renascer de nossas próprias cinzentas cinzas! Cruel destino! Abrimos as asas amarrotadas de ontem e percebemos que desaprendemos o vôo! Não somos águia... Transformamo-nos em abutres de nós mesmos! De nossos desejos não ditos... De nossos sonhos não revelados... Dos nossos medrosos sentimentos!
Ocultos no nosso próprio abandono, só conseguimos visualizar o nó do nosso destino... Mas não sabemos como desatá-lo! E a onda do antigo discurso retorna e nos pega novamente desprevenidos... Novamente repetimos: "Eu me basto!" E batemos com a cara na praia da nossa solidão! Como náufragos, olhamos ao redor em busca de uma ilha onde pudéssemos enterrar nosso sentimento de nulidade... Mas a ilha se torna um oásis e, ao percebermos isso, só nos resta chorar... Sentamos na areia molhada pelo nosso pranto e derramamos nossos dissabores... Mas a praia está deserta! Ninguém por perto para sequer ouvir nosso choro... Lamentamos sozinhos e percebemos que a nossa solidão é igual à solidão do mundo! Cada um vivendo seu próprio abandono! Sua própria hipocrisia! Seu próprio obscurantismo! De Fênix passamos a Sísifo e voltamos a carregar as pedras que rolaram do nosso coração! Novamente nos colocamos nus na praia deserta e subimos montanha... Lá de cima do nosso desassossego contemplando o infinito...
O infinito seria o nosso porto seguro! Mas que é feito do barco ou da canoa que poderia nos levar até a outra margem? Em nossos devaneios nos esquecemos de colocar na tela que pintamos a moldura adequada para estancar as lágrimas que teimam em novamente rolar... E a enchente que se forma parece querer nos afogar por inteiro. Estamos naufragando! Sem remos, sem velas... À nossa frente um mar em tsunami... Às costas, um frio tenebroso... Se caminhamos para o lado, um abismo imenso parece querer nos engolir! Nenhum oásis... Nenhuma ilha paradísiaca! Só nossos lamentos! E, sós, entregues ao nosso solilóquio, fechamos os olhos, abrimos os braços e nos jogamos de cima da montanha... Lá embaixo um mundo tingido de vermelho nos acolhe na escuridão do asfalto!
Roziner Guimarães
Quantas vezes quis entender porque "dei certo" na vida. Agora entendi. Nunca caminhei na contramao da vida e levei muito ponta pé na... Obrigada pela compreensão.
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