domingo, 14 de novembro de 2010

Poderia ser uma vírgula, mas não, são pontos de interrogação

               O gancho que me fisga se disfarça de resposta em vagos monossílabos e em reticências várias. E eu continuo tartamuda sem entender a pergunta e sem ter uma resposta.  E esse abismo me engolindo sem aviso! E eu vesga sem entender nada e tentando decifrar tudo. Mas tudo é tão nebuloso... Tão sem nexo! Meus olhos em torrentes... Minha mente em desalinho... Meu corpo embalsamando as dores do mundo... E o mundo nem aí para minhas dúvidas e para meus desassossegos! E eu pedindo misericórdia! 
                Sem resposta, sigo sem rumo rumo a um horizonte que, às vezes, nem consigo visualizar. Mas, inda assim, meio empurrada pelas horas, que passam às vezes lentamente, noutras tão rápido, vou indo... Os ganchos me enganchando... Enlaçando... Fisgando... Tropeço aqui, caio ali... Levanto meu zonza... Trôpega e, mais uma vez, tento me fazer de forte. Mas só eu sei o quanto é causticante viver assim. 
               A caminhada parece longa! Meus passos estão curtos. Volto para o passado na tentativa de encontrar uma linha solta... Um alinhavo, talvez. Fuço. Remexo. Mas não. Os nós estão bem atados. Só o que consigo é me enlaçar  mais e mais...  Mais perguntas que respostas! 
                E os meus sonhos, onde os enterrei? Quando? Por quê? Como viver o presente assim tentando disfarçar uma dor já doída de doer? Como acabar com a raiva de uma vida vivida pela metade? Onde esconder a mágoa? Como silenciar a solidão? Como dissipar o medo? E essa alegria malsã poderá um dia se transformar em alegria pura? Que destino é este?
               Aí me chega um desavisado e me pede calma. Outro me fala em fé. Alguns afirmam que é preciso ter esperança. Pensamento positivo. Disciplina. Caramba! E o esforço que tenho feito para me manter firme ninguém percebe? Ninguém percebe a força que tenho empreendido para me manter de e em pé? Ninguém percebe que até meu silêncio tem gritado por socorro? Ninguém percebe!
               Não percebem. Para perceber, é preciso observar. Observação implica preocupação. Cuidado com o outro. Por isso, quando perguntam: "Tudo bem?" ou "Como está?" Respondo: "Tudo ótimo!", "Estou muito bem!" E  vivam as máscaras! Viva o disfarce! Quem pergunta não quer saber. Quer talvez um motivo para mais uma crítica. Como crítica não cura nem devolve a alegria para ninguém... Fico eu com meus pontos de interrogação e deixo que o mundo viva suas vírgulas. No mundo das vírgulas, as pessoas têm resposta para tudo... Eu só tenho dúvidas! Fico, pois, sozinha, no meu mundo de ganchos!
    
           Roziner Guimarães

5 comentários:

  1. Boa noite, minha amada escritora!

    Que bela reflexão! Concordo que muitos hoje têm vivido no mundo das vírgulas e outros, inclusive eu, no mundo das interrogações. Quantos "ganchos" tem tb me "enganchado". Sei bem, minha amada, que fé, coragem, disciplina, esperança são sim necessários, mas é preciso mais. E esse mais vc está fazendo: buscando respostas, refletindo.

    Amada poeta, preciso dizer: vc não está sozinha no seu "mundo de ganchos". Eu continuo sempre por aki...Já disse e repito: Seus textos me emocionam, me tiram de mim e me trazem de volta renovado. Gosto da viagem que empreendo ao lê-los. Não sei por que, enquanto lia seu texto, pensei na "Cura de Schopenhauer". Deve ser a questão da "cura".

    Se me permite uma reflexão (sem vírgulas rs rs): Muitas vezes as "dores" podem ser uma forma de empurrar o espírito para a busca da cura... Escreva! Sua cura é a poesia!

    Abraço gostoso!

    Augusto

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  2. Eu ainda vou desatar esse nó de poeta. Quanto mais leio esse texto (5 vezes) mais me impressiono com os pontos pontuados nos seus devidos lugares. Assim... penso eu, construo uma máscara cheia de pontinhos...ficando entre a vírgula e a interrogação.

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  3. Sônia, a vírgula e as interrogações fazem parte da nossa cultura. Por mais que não as aceitemos, elas se fazem permanentes. E é justamente por isso que "crescemos", evoluímos. Os pontos finais é que são perigosos! Esses sim, muitas vezes, trazem mais dores do que evolução. Fico feliz por poder refletirmos juntas.

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  4. Acredita, que estou há dois dias pensando nos pontinhos da minha máscara. Eis que hoje encontro você aqui me "cutucando". Realmente os pontos são como situações conclusivas, as vírgulas justificam situações que não conseguimos encarar. Resolvi furar os pontinhos e assim enxergar o tanto de gancho em que eles se transformaram. É estou mais tranquila, não posso estancar nada, as coisas não acabam, tenho que continuar buscando respostas para as interrogações. Obrigada pela oportunidade de proporcionar esse alívio em mim.

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  5. Ô, Sônia, penso que trazemos todos os sinais de pontuação em nós! Uns se engancham nos pontos de interrogação, outros tropeçam nas vírgulas, outros se perdem nas reticências... E cada um vai seguindo seu curso: caindo, levantando, titubeando entre uma cisma e outra. Não importa! O que importa é caminhar! Desvendar os mistérios do sem-fim. Sabia que tem gente que nem percebe esses sinais? Nós somos felizes: temos consciência de alguns deles em nós e tentamos desvendá-los. Isso sim importa. Veja vc: já conseguiu "furar os pontinhos e enxergar o tanto de gancho em que eles se transformaram". Isso é vida!

    E, se tem alguém que precisa agradecer, esse alguém sou eu: obrigada por ler meus textos com tanta profundidade. Sua leitura acaba me "obrigando" a reler o texto e a buscar respostas nele para os meus ganchos.

    Volte sempre que puder e quiser. è um prazer ter uma leitora como vc!

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